quarta-feira, 12 de outubro de 2011
DIÁRIO DE VIAGEM
segunda-feira, 20 de junho de 2011
CHEIRO DE AMIZADE
Carta dos portos da Cidade Fortificada endereçada à Caravana em nome do Grande Cid Amim Aanisan, em comitiva além dos mares médios:
sábado, 6 de novembro de 2010
CARTA DE DESPEDIDA
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
A FELICIDADE ESTÁ NO CAMINHO
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
A CIDADE FORTIFICADA
quinta-feira, 22 de julho de 2010
ACERTANDO AS COISAS
* leia a postagem de 03 de março - TODO INÍCIO É ESTRANHO E DUVIDOSO
quarta-feira, 14 de julho de 2010
TODOS NÓS PRECISAMOS DE UMA CANAÃ

Avassalador
Chega sem avisar
Toma de assalto, atropela
Vela de incendiar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Chega, nem pede licença
Avança sem ponderar
(Lenine)
Kalil, que antes se prendia em tarefas domésticas e viagens de trabalho, agora dedica tempo e mais tempo em audiências com a mãe de Elmira. No final do dia, enquanto fechávamos as portas, Kalil me chamou no grande balcão de ébano para conversar. “Libanês, as coisas mudaram muito desde o dia que chegamos a essa vila. Com o casamento de Nahan, fico me perguntando o que faremos em seguida”. “O que você quer que eu faça”, usei a mesma frase que Kalil disse a Nahan, já esperando a resposta. “Quero ter uma referência na vida. Trabalhar na lujinha tem sido algo de muito valor. Entretanto, depois desses anos todos, entendo que é hora de mudar. As coisas não fazem sentido como antes.”
Sempre admirei a força e determinação de Kalil. Sua trajetória de trabalho se inicia ainda bem moço quando começou a trabalhar com o Pai do nosso senhor. Sempre gostou de cavalos, camelos, caravanas e viagens. Era um homem direto, com rosto rude mas com uma educação e polidez que nenhuma escola do outro lado do mar ou mesmo na velha Síria são capazes de produzir. Era o especialista em negócios com os irmãos Tuaregs, talvez pela sua origem e com os africanos mais ao sul, com certeza, por falar a língua Zulu, dominante daquelas terras. O conhecimento de um homem desses vale ouro e agora, vejo este ouro sendo lançado fora, pois o seu depositário não acha nele valor algum. “Estais cansado de tanto caminhar meu amigo. Está na hora de achar a sua Canaã.”
Estávamos olhando para os nossos copos com chá de pêssego e cassis em cima do balcão. Perguntei onde a Sra. Karim entrava nesse sonho. A resposta veio com um olhar de homem prestes a se entregar de mãos ao alto e desarmado: “meu amigo Libanês, ela é o sonho”. “Então, meu caro amigo, aqui está a resposta da sua pergunta”.
A questão maior agora era como declarar esse amor. “Apresentar o sentimento de jovens é coisa relativa fácil (no caso de Nahan, suamos como chaleiras). Mas não cabe um papel desses a um homem maduro e a uma mulher na posição da Sra Karim. “Libanês, vivo um dilema que só os altos céus podem ajudar”. “Karim é a minha Canaã”.
O poeta escreveu certa feita que existem duas belezas: a que se vê e a que se sente. A beleza vista é a que nos chama a atenção para os olhos, para o corpo e para a voz. Mas a beleza que se sente é aquela que sentimos a falta da pessoa quando esta não esta por perto. O sentimento de Kalil já alcançou estas duas belezas.
Ficamos matutando um pouco mais agora olhando para os copos vazios. Acabou-se o chá que trouxemos do outro lado do mar. Agora só a lembrança doce das frutas e do licor. Quem poderia representar o nosso amigo em nome desse pedido? Abri o livro da sabedoria de Salomão. Com tantas mulheres, vai ver que ele deixou uma dica em código que só pode ser interpretada por homens desesperados como nós. Nada foi encontrado. Ficamos folheando livros sem um objetivo até nos depararmos com uma folha em branco.
“Kalil. Tive uma idéia”. Meu velho amigo vendo o meu olhar para a folha em branco desabafou: “a mais de vinte anos, toda vez que você faz essa cara, eu me meto em algum problema”. “Já escuto o barulho de muitos cavalos saindo dessa sua cabeça. E pare de levantar a mão e de sorrir me pedindo calma!”
Depois de acalmar o leão, pedi ao velho amigo que, no outro dia, marcasse um encontro com a sua Canaã. Ele seguiu as instruções (ou por desespero, ou por esperança, ou pelos dois) e disse a ela que ele precisava se afastar um pouco para conseguir expressar a imensa quantidade de sentimentos que fervilhava seu coração. Estávamos no início da semana e a Sra. Karim pediu com voz calma que ele voltasse no final dessa, pois também estava com muitos sentimentos, alguns desses já esquecidos pelo tempo.
“O que ela quis dizer com sentimentos esquecidos... Libanês?” “Isso é quase um sim, meu amigo. Isso é quase um sim.”
Convenci o velho amigo que o mais sensato era dormir. Após vencê-lo pelo cansaço, fiquei com a minha insônia, a minha folha em branco e alguns livros abertos. Meus pensamentos retornaram para as palavras do rei Salomão, mas agora em outro livro.
É interessante como as palavras inspiram; como acabamos por mudar o nosso jeito de pensar sobre um determinado assunto ou pessoa quando lemos determinadas palavras que se organizam e formam frases únicas.
Acordei o meu bom amigo antes do sol aparecer. Apresentei a idéia e as palavras que se formaram. Ele consentiu e escreveu o seguinte dizer ma frente do envelope:
“Doce Karim, receba estas palavras que representam o meu sentimento. Entretanto esta poesia está incompleta. Somente as suas palavras podem completá-la”.
* “Dize-me, ó tu, a quem ama a minha alma: Onde apascentas o teu rebanho, onde o fazes descansar ao meio-dia; pois por que razão seria eu como a que anda errante junto aos rebanhos de teus companheiros?
Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres, sai-te pelas pisadas do rebanho, e apascenta as tuas cabras junto às moradas dos pastores.
Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com os colares.
Enfeites de ouro te faremos, com incrustações de prata.
Eis que és formosa, ó meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.
Vem comigo do Líbano, ó minha esposa, vem comigo do Líbano; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde os covis dos leões, desde os montes dos leopardos.
Enlevaste-me o coração, minha irmã, minha esposa; enlevaste-me o coração com um dos teus olhares, com um colar do teu pescoço.
As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam”
Em resposta, o nosso amigo recebeu as seguintes palavras:
** “Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.”
* trecho do livro de Cantares de Salomão
** trecho do livro de Rute
segunda-feira, 14 de junho de 2010
APAIXONE-SE
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer
quarta-feira, 9 de junho de 2010
CORTE, CONCENTRE, SIMPLIFIQUE
domingo, 30 de maio de 2010
O MINARETE
terça-feira, 18 de maio de 2010
PARA QUE O NOVO ENTRE, O VELHO PRECISA SAIR

e ficar sentado esperando que isso aconteça sozinho”
quarta-feira, 3 de março de 2010
TODO INÍCIO É ESTRANHO E DUVIDOSO

UM PRESENTE PARA LEMBRAR

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
SOBRE A GRATIDÃO

No outro dia após o evento da capela, a nossa pequena vila acordou com uma algazarra de galinhas cantando, patos berrando e o mercado que sempre se mostrou calmo, estava em festa. O culpado da bagunça era o meu pequeno convidado que corria de loja em loja dizendo que estava feliz e cheio de energia. Para cada um que passava, o pequeno dizia que as lentilhas da lujinha são as mais gostosas que já comeu. Após ganhar um “bom dia” e um sorriso, o padeiro retribuiu com um pedaço de pão com coalhada seca. As boas senhoras do entorno choravam e soltavam gritinhos dizendo que “o pequeno estava sorrindo!” “O pequeno estava feliz!”. E eu, que vivo preocupado com o que acontece da porta para dentro em minha vida, não dei mais importância para os acontecimentos matutinos.
Depois de minutos da abertura dos trabalhos, o velho Kalil, meu amigo que me ajuda nas compras, entra na lujinha dizendo: “Sua lentilha é o assunto do mercado. Prepare-se para um dia cheio”. Na certeza de que o nosso clérigo tinha se zangado com a minha resposta, fiquei esperando a visita de algum Conselho, Comissão ou qualquer outra coisa punitiva parecida. Entretanto, algumas pessoas entravam dentro do meu estabelecimento desejando comprar lentilhas. Uma senhora de gastos vestidos chegou a dizer que a muito tempo não via uma criança tão cheia de vida.
Sem entender, perguntei ao velho Kalil o que estava acontecendo. “Foi o garoto de ontem” disse com a voz calma, passando a mão na barba branca. “A criança que você ajudou ontem é um orfão que a comunidade encontrou perdido no deserto”. A história que me contaram é que ninguém conseguia fazê-lo feliz. Essa foi a primeira vez que ele demonstrou felicidade. Vi o pequeno passar correndo dizendo que a sua sopa de lentilhas é capaz de fazer qualquer um sorrir”.
Lentilhas não fazem milagres. Sei disso pois vendo lentilhas a muito tempo. Alguns pratos podem ajudar numa proposta de casamento ou selar um contrato importante. Mas uma coisa assim está além da capacidade culinária de um dono de lujinha.
O nosso pequeno personagem ouvia a nossa conversa encostado na porta da loja. Perguntei o motivo daquela alegria e gratidão. Afinal, era só um prato de lentilhas. “Acho que foi o seu tempero tio”, respondeu o pequeno sorrindo de uma forma simples.
Após muitas gargalhadas, o velho Kalil propôs que vendêssemos o tempero da receita junto com as lentilhas “Está decido! O tempero é o segredo da gratidão, meus amigos! É o tempero!”.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
O dona, o que é graça?

Não minha senhora, não estou falando da manicure da esquina, mesmo sabendo que tal moçoila foi batizada com o nome de Maria das. Deixa pra lá. Sente-se aqui no balcão e vamos imaginar uma história fictícia de pura realidade enquanto enxugo os copos:
Certa feita, o pároco daquela pequena capela aqui em frente esperou que todos se acomodassem para o início da liturgia de domingo de manhã, quando o último enternado chegou (enternado é o sujeito que vai de terno para a igreja), ele fechou as portas da capela. Foi um estranhamento, pois a novidade mexia com o cotidiano dos acostumados a tudo dentro do tim tim por tim tim.
Nada de música, nada de leitura. Apenas um pedido daquele homem que estava lá na frente junto com um diácono que ficava assentado com cara de nada (diácono é uma coisa que eu não vi ainda para que serve, mas dizem que serve para servir). O pároco levanta a voz e diz: meus amados escrevam nos papeis que estão à sua frente o que vocês acham que significa a palavra “Graça”. Tenham um bom dia e até mais na liturgia das 19:00 horas.
Isso é coisa que se faça? Logo eu, dono de comércio novo, precisando de clientes para freqüentar, comprar e principalmente pagar, vou para capela fazer freguesia e não tenho nem a oportunidade de receber uma palavrinha amiga, nem panfleto minhas opiniões com ninguém? Melhor cuidar das lentilhas que recebi e pensar em uma boa promoção! Guardei o papel branco, atravessei a rua com passos duros e meti porta a dentro!
Atrás de mim um menino com cara de fome, perna de fome, braço de fome e o resto também. Tinha uns 6 ou 9 anos. Sou ruim dessas coisas. Ele olha pra dentro da lujinha e diz: moço, me dá um serviço pra fazer? Fitei aquela carinha, perguntei com voz dura por que ele não estava com a mãe. Ele me respondeu porque a mãe dele estava morta no cemitério (toma libanêss!- pensei comigo mesmo) ficamos olhando um para o outro por minutos. Perguntei se ele tinha dinheiro pra pagar um algo. Ele levantou os ombros e balançou a cabeça. Recebi o mais óbvio “não” da minha vida (toma libanêss!).
Hoje você não trabalha. Vamos comer primeiro. Levei um pouco da lentilha nova que comprei, coloquei bacon, cebola e temperos da minha amada terra na panela de pedra e comemos um cozido que fez a barriguinha do menino estufar. Ele comeu, sorriu e foi embora.
Fiquei parado relembrando tudo e sorrindo. Às 19:00 horas, entreguei o papel na capela com um punhado de lentilhas dentro.
SAINDO A PRIMEIRA FORNADA!

Meus caros visitantes & fregueses,
Quero compartilhar pequenas histórias com vocês. Elas não são inteiramente concretas nem inteiramente fantasias. Talvez sejam um pouco desses dois antagonismos. A melhor definição que posso dar é que são histórias venéreas de uma profundidade cistérnica, com efeito balsâmico.
Portanto, nada de ficar achando defeito, teorizando ou levando meu pobre nome para o Pastor da minha Igreja ou para Patrão. A Lujinha é simples e está começando agora.
Mesmo porque o que digo e escrevo não tem nada a ver com uma Organização. O que penso e digo em minha mercearia de idéias tem um haver com o meu coração.
Boa leitura.
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