“A coisa mais importante é fazer da coisa mais importante a coisa mais importante”.
Duas casas destelhadas, as paredes da forja do amigo Sarosh, o portão da ala direita e, infelizmente a pequena capela estavam no chão. É interessante que só damos valor para algumas coisas quando já não temos mais essas coisas ao nosso lado. Para piorar, as pessoas não sabiam por onde começar a arrumar.
“Quem morava nas casas?” Perguntei já sabendo que a casa era de aluguel e que o dono das casas não morava perto de nós.”Ninguém morava lá” respondeu o amigo Sarosh. “Estão fechadas há meses”. “Onde o dono mora?” “Há dois dias daqui”. “precisamos avisar que a suas casas estão sem telhado e muito sujas pela areia. Aliás, precisamos de um mensageiro que vá até ele, pois vamos comprar as casas”. Sem entender nada, conseguimos um mensageiro que foi levar as “boas” notícias e a nossa proposta de compra. “E agora tio?” Perguntou o Bom Nahan ainda meio incrédulo diante de tanta determinação. “Chame as senhoras; mande limpar a casa”.
O nome dela era Elmira, que significa princesa. O Bom amigo Nahan chegou até a jovem berbere e perguntou se ela poderia ajudar na organização e limpeza das casas. Tudo combinado, a areia começou a sair e os detalhes da casa começaram a reaparecer. As mulheres retiraram um mundo de areia. Os homens retiraram as telhas quebradas e madeiras que precisavam de substituição.
“Kalil, chame os jovens e os fortes.” Reunidos em frente da forja do velho Sarosh. A ordem era reconstruir a oficina o mais rápido possível. “De onde vamos tirar as pedras, ferro e madeira?”, perguntou o meu bom amigo alisando as barbas brancas e apresentando um sorriso no canto dos lábios. “Retire da capela. Separe o essencial. Aproveite o resto como material de construção”.
Para piorar, meia dúzia de diáconos vieram conversar conosco. Na hora da crise, tudo o que não precisamos é de pessoas que não sabem da missa o terço e que só querem puxar para baixo, quando precisamos de pessoas que nos puxem para cima. “Senhores: querem nos ajudar, então as pás e os martelos estão logo ali. Se não, de-nos a devida licença. A conversa com nosso Clérigo foi mais tranqüila. Pedi apenas que confiasse e que indicasse o que era essencial.
A forja já estava funcionando; as casas já estavam limpas. Recebemos a resposta que o dono aceitaria a quantia que tínhamos mais três juntas de camelos jovens. “Onde conseguir camelos jovens depois de uma tempestade dessas?” Gritou enfurecido o bom Kalil. “Tenho os três mais belos Jamales da região. Pode levá-los” disse em tom firme o bom Nahan. “Tenho dois animais jovens. Leve-os também” surpreendeu Elmira com aqueles olhos verdes e atitude firme. “Não tenho um animal jovem, mas leve esta fêmea com este filhote. Para fechar o negócio, pedimos ao nosso Clérigo que era o dono da mamãe camelo e seu filhote e ao bom Nahan que levasse o pagamento.
Ao retornar, quase toda a cidade estava limpa. Faltava apenas o conserto do portão da ala direita que ainda não abria e forçava aqueles que passavam a entrar pelo portão próximo ao Minarete do Leão.
Quando os nossos viajantes chegaram, todos nós demos as boas vindas em frente ao jardim que separa as duas casas. Quando eles entraram, perceberam que a antiga casa deu lugar a nossa nova capela. Uma capela maior, mais confortável, e muito mais coerente com o nosso povo. Pouco se via da antiga Capela e a nossa idéia era desaparecer qualquer vestígio da antiga capela com a ampliação dos jardins das duas casas.
Todos reunidos, numa mistura de felicidade e muito cansaço, mesmo sendo tarde da noite, nosso Clérigo leu parte do livro de Neemias.
As coisas pareciam mais simples, as pessoas estavam mais próximas e o sentimento de resgate às nossas prioridades contagiava todos aqueles que estavam nas casas. Todos menos Nahan e Elmira que não pararam de trocar sorrisos e olhares um para o outro
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