sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A FELICIDADE ESTÁ NO CAMINHO



Aqui encerramos estas estórias.
Existem novas para se contar.
Talvez um dia, talvez não.
Tudo depende do caminho.


O quarto que antes abrigava o nosso amigo Libanês agora está vazio. Por sugestão do Clérigo da Cidade, aquele local deveria estar sempre pronto para o retorno do viajante ou para hospedar qualquer outro visitante ilustre.

Olhando para o passado, percebemos as grandes ações destes três homens. É fácil subir em um palanque ou em uma caixa de frutas e começar declamar discursos ou palavras de ordem. É relativamente fácil afirmar para quem passa pela nossa vida: “Olhem para mim”, quando devíamos dizer: “Hei, olhe para o lado. A resposta está lá fora”. Quem tem coragem de dizer isso?

Temos a capacidade de influenciar muito mais com aquilo que fazemos em detrimento daquilo que falamos. Estes três falavam pouco. Mas influenciaram uma Vila inteira com uma vontade de fazer a coisa certa. Essa vontade contaminou o ferreiro, o oleiro, o padeiro e quando nos demos conta, uma parte dos moradores vivia este novo modo de ver a vida. É claro que não houve unanimidade. Isso não existe. Mas é interessante observar que quando a boa palavra prevalece em um ambiente, a mediocridade se cala.

Mas o caminho também ensina que precisamos acrescentar mais prudência nas nossas atitudes. Julgamos com muita rapidez as pessoas e as situações. Erramos porque não temos a paciência de analisar. É como se passássemos em disparada por um diamante que está jogado na estrada e que, certamente, teríamos percebido presença dele se estivéssemos caminhando com mais calma.

É interessante observarmos o ditado que a minha sogra sempre recita na cozinha da nossa casa: “Quem está com pressa come cru”. Tudo bem que o ditado não vale muito para a criançada que fia ao lado dela esperando o pão ou os biscoitos. Mas esse é um ensinamento diamante que só se aprende se você passa mais devagar pela estrada.

Não foi e ainda não é fácil lidar com a impetuosidade de Naham que gosta de resolver logo as coisas, da teimosia de Kalil em aceitar uma nova idéia, da altivez de Alice que não aceita uma sugestão para tratar melhor os camelos. Se for de um homem então, o céu cai antes de ouvirmos um “eu aceito”. Ninguém é perfeito. A perfeição se faz com as pedras que encontramos no caminho.

Foi riste perceber isso só agora, olhando para este quarto vazio. Entretanto, se observarmos a estátua do Tuareg feita pelo bom ferreiro Sarosh a resposta sempre esteve diante de nós. A estátua era o sonho do Libanês e o sonho só se realizou quando ele deixou a estátua para traz.

Às vezes colecionamos coisas que só mostram o seu valor quando doamos esse tesouro para alguém. Não são as coisas que dão sentido, são as atitudes.

De fato, a verdade está no caminho...

Este é o relato de Samir Khuri - Clérigo desta Cidade.

 

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