A bússola das explicações I
Nota explicativa:
Nos tempos antigos, cabia aos grandes comerciantes a responsabilidade de levar as mercadorias produzidas pelas cidades e estados para outros países e localidades. O conceito de país aqui é relativo, uma vez que estamos numa época de formação dos territórios, onde o que temos são reinos e vilas decorrentes das primeiras épocas. Naquele tempo, era dos reinos a responsabilidade de criar companhias de transportes do ressente ultramarino para que as mercadorias do oriente chegassem ao seu destino. Fora a aventura, o Mediterrâneo continuava sendo a “estrada” que levava a riqueza de um lugar para outro. Entretanto, existia um problema a ser resolvido: como fazer chegar as mercadorias até os portos e como garantir que o acordado foi de fato cumprido entre as partes. Nesse contexto foi criada a Companhia de Transportes e informações do Oriente, ou Al Karafaan (A Caravana) como era conhecida. Esta era a maior e mais conhecida organização de transportes até os portos. Além de diversos pontos de apoios espalhados pela África, Ásia e Europa a Caravana tinha uma grande fama além da capacidade de atender a qualquer demanda. Sua maior qualidade: eles eram honestos. Num mundo de distâncias e controles pífios, além do alto índice de corrupção nas companhias de transportes e reinos com monarcas de caráter duvidoso, contratar os serviços da Caravana era, para muitos, a solução mais segura e mais rentável.
A estratégia de negócios criada pelo Filho do Grande Cid, Senhor de reinos e terras e também nosso Senhor, era memorável e tem sido utilizada até os dias de hoje: Quando um rei o senhor de terras desejava ter as suas mercadorias transportadas, A Caravana se tornava sócia do senhor daquelas terras. Ou seja, parte da mercadoria transportada já era o pagamento pelo transporte. Além dessa forma de pagamento, uma parte do pagamento era feita com mercadorias de outros comerciantes. Assim, cada “cliente” possuía duas viagens planejadas a que levava as encomendas (makhraj) e as que traziam as encomendas (madkhal). Assim a taxa de inadimplência, falhas e perdas eram muito pequenas. Afinal, todos eram sócios de todos e se alguma coisa acontecesse de mal com alguém, todos saiam perdendo.
Um segundo ponto a ser observado era a tecnologia que a Al Karafaan possuía: a primeira delas era a escrita: todos os representantes, condutores de animais e demais participantes aprendiam a ler e a escrever pelo menos dois idiomas: a língua local e o árabe que era a nossa língua comercial. Para se destacar e dentro do grupo, o interessado deveria aprender o hebraico (mesmo que seja o mínimo) ou o latim. Nesse item o nosso amigo Libanês saia na frente, uma vez que o árabe era a sua língua mãe e ele conseguia ler muito e escrever um pouco de hebraico. Em compensação sabia ler e escrever em latim e falava o Espanhol. Este diferencial foi um dos motivos da partida dele para o outro lado do mar (Europa) para conduzir as novas negociações até a cidade de Granada.
Um outro motivo para o crescimento da Caravana é o fato de que os negócios precisavam de sócios. O dinheiro é coisa escassa e a desconfiança mútua era a especialidade da casa. É claro que durante este período, houveram perdas materiais e de algumas dezenas de vidas. Mas, no geral, os negócios eram bem sucedidos.
Mas o filho do Grande Cid percebeu que não só de mercadorias viveria as nações. Um dos bens mais importantes daquele tempo era a informação. Como não havia jornal ou coisa parecida, as cartas ou informativos lidos em forma de jogral nas praças eram a forma mais rápida e precisa para se ter notícia do mundo da época. Por isso, quando a pessoa demorava a responder a uma correspondência, como aconteceu com o nosso amigo Libanês a idéia de problemas (lê-se morte) era levantada pelos que ansiavam por respostas.
Mas como sobreviver a um mundo entregue à barbárie e ainda por cima obter lucro? A resposta: com segredos e método. O primeiro deles: todo grupo de transporte era composto por diversas pessoas de raças ou etnias diferentes. Ou seja, sempre teremos um judeu, um árabe, um oriental ou um africano rondando as terras distantes. Nesse sentido, ao passar por um território, sempre haveria uma pessoa “nativa” da região. Isso facilitava muito as coisas. Em segundo lugar, cada Grupo possuía uma série de rotas que mudavam de acordo com os meses. Isso evitava que ladrões conseguissem fazer grandes roubos pois, de fato, o lucro vinha do volume em circulação e não da quantidade de cada viagem. A regra era simples: muita gente carregando pouca coisa. Mais um motivo que fazia da Caravana a melhor transportadora da sua época: Só tinha gente experiente. Enquanto os Portugueses e Espanhóis chamavam jovens inexperientes e ambiciosos, a Caravana trabalhava cerca de 10 anos na vida de um líder antes de colocá-lo no deserto. Nenhum componente tinha menos de 05 anos de deserto, bem como de conhecimento dos métodos a serem utilizados. Por isso, localidades como a Cidade Fortificada eram tão importantes e, semelhante a essa, havia cerca de mais 08 ou 10 locais espalhadas pelo velho mundo. É claro, ninguém sabia quais eram as cidade pólos. Isso somente o nosso Senhor detinha tal conhecimento.
Como vocês puderam perceber, a coisa funcionava como um quebra cabeça. Os mais antigos falavam que isso era influência de certo homem que calculava e que agora trabalhava para o grande Cid. Outros falavam que isso saiu da cabeça do nosso Líder, um profundo amante da lógica e dos números que, depois de muito custo, conseguiu trazer esse calculista para trabalhar com ele nas Rotas de viagem. Sempre existe muito folclore nas coisas que não são bem explicadas. Mas acho que buscar explicação no começo do livro é tirar a graça da história.
E assim, levando contratos mercadorias, pagamentos e até protegendo pessoas, esse exército de peregrinos trabalhavam diuturnamente buscado cumprir o seu período de “caminhada” (nome dado pelos viajantes para esse período que poderia durar até vinte anos e que, após o cumprimento dessa etapa, o viajante poderia escolher voltar a sua terra natal ou morar na casa do Grande Cid e sua família). Como a maioria dos viajantes, também chamados de peregrinos eram celibatários, acabavam se dirigindo para a casa do nosso Senhor. Kalil era uma exceção, ou melhor, ele representava uma nova tendência onde a vontade de se constituir família ficava cada vez mais forte.
Alguns conselheiros atribuíam essa tendência ao papel que a noiva do filho do grande Cid começou a ter na vida do nosso Reino. Influência positiva, pois a condição da mulher precisava ser revista. Nessa mesma época as traduções* começavam a fazer mais sentido para cada peregrino. Por isso, quando Elmira se casou, houve o envio de um presente específico para ela, além do presente para o próprio Naham.
Isso explica um pouco a dureza do nosso amigo Libanês. Ele sabia que se ele quisesse crescer no Reino do nosso Senhor, ele deveria abrir mão do conforto da cidade fortificada e enfrentar o deserto e as cidades desconhecidas do outro lado do mar. Quando houve o chamado, largou tudo e seguiu. O que ele não esperava era ser promovido a embaixador.
Bom, vamos explicar logo de uma vez que... Ou melhor, vamos esperar mais um pouco para explicar sobre esse assunto.
Salaam Aleikum (Que a paz esteja sobre vós).