“Levantarei os meus olhos para os montes:
De onde vem o meu socorro?
O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.
Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não cochilará.
Eis que não cochila nem dorme o guarda de Israel.
Ele é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita.
O sol não te molestará de dia nem a lua de noite.
O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma.
Ele guardará a tua entrada e a tua saída,
desde agora e para sempre” (Salmo 121).
Já se passaram algumas semanas desde o dia que a pequena Vila viu o casamento de Naham e Elmira juntamente com Kalil e Alice. Foi uma cerimônia simples, mas singela e cheia de significado.
Falamos de como é bom encontrar uma pessoa que sonha os mesmos sonhos que temos, de que os pequenos gestos, como o caso das lentilhas, podem desencadear uma infinidade de outras oportunidades de construímos o nosso caminho. Concluímos a reflexão falando da importância do outro na vida da gente, de que a felicidade está no caminho e que devemos sempre lembrar que tudo começa com a sinceridade e a transparência.
Alguns convidados e todos os moradores participaram da cerimônia de casamento. Todos menos o nosso amigo Libanês.
Lembremos:
Pouco tempo antes da cerimônia, o jovem, o homem e o velho receberam do venerável Cid Amim Aanisan, uma carta endereçada a cada um deles.
Na carta para Naham, o Senhor dessas terras deu ao jovem casal como presente de casamento a lujinha para que essa se torne fonte de sustento para a sua família. Entretanto, a carta trazia um convite que estabelecia um contrato entre a lujinha e os negócios do nosso Senhor. Aquela vila deveria continuar a ser um ponto de venda de amimais e porto seguro para as caravanas de comércio além de lugar de ensino para os jovens antes de seguirem para o outro lado do mar para dar continuidade aos estudos. Agora, todas as novas encomendas devem ser encaminhadas ao viajante que representará os negócios e cabe a ele o controle de entrega dos artigos importados. Naham aceitou o presente e o contrato de comércio. Saiu em disparada para contar as novidades à Elmira. Só nos vimos pouco antes do início da cerimônia, como convêm nos costumes.
A carta para o velho dizia que ele agora era um homem livre para assumir a liderança da sua família. Entretanto, o Grande Cid Amim convidou os dois para serem os representantes do seu governo na direção das caravanas de comércio, do transporte de gado e dos novos produtos que em breve começariam a chegar naquelas terras. Caberia a eles, entretanto, estabelecer um bom relacionamento com o viajante que seria o representante do Senhor naquela terra. Não poderíamos desperdiçar nada, pois já se ouvia rumores de guerras do outro lado do mar e esta situação sempre atrapalha a vida e os negócios. Kalil foi ter com Alice para contar as novidades. Quando voltou para conversar com o grupo na fonte da capela, encontrou apenas o Clérigo preparando sua reflexão para o casamento.
A carta endereçada ao homem dizia que o seu Senhor reconhecia todo o seu esforço em fazer da vila uma cidade fortificada. A carta também aceitava a fidelidade do bom amigo Libanês, mas ela trazia o temor que o seu Senhor tinha com relação aos rumores de guerra que estavam surgindo do outro lado do mar. “Nossos negócios estão ameaçados. Preciso de uma pessoa de confiança que veja o que está acontecendo e que me traga notícias e resultados. Quero que você seja o meu viajante. Leve apenas o essencial, vista as roupas que enviei e parta agora. O meu nome e a minha força estarão com você. Os soldados que enviei acompanharão você durante toda a sua jornada. Eles obedecerão a qualquer ordem sua. Por isso, cuidado com o que você fala. No seu lugar o meu servo Khuri cuidará do futuro dos seus amigos. Leia as demais orientações com calma e memorize-as. Ah! Aproveite o presente que está lá fora”.
“Preciso escrever uma carta”, disse o Libanês. Mas não havia tempo para escrever. Ficou a cargo do Clérigo contar sobre as novas ordens e ações.
As roupas brancas deram lugar a roupas de cor cinza, típica dos viajantes. O turbante azul deu lugar a um preto e no lugar de uma simples faixa o peito trazia uma cinta e uma espada. Os pertences do nosso amigo estavam em uma pequena bolsa que ele trazia ao lado. Todos os mantimentos e necessidades de viagem já estavam com os soldados.
Ele não mais voltou à capela ou a qualquer parte da cidade. Ele saiu pelo portão do Minarete de Aslan. Só o Clérigo presenciou a sua partida. Um aperto de mão e palavras do Salmo 121 foi o que ele levou daquela antiga vila que hoje se mostra uma cidade fortificada.
Ao encontra-se com os seus guardiões, viu que ao centro estava um garanhão árabe, que é o rei dos cavalos: o mais belo tordilho que já tinha visto. Esse era o seu presente.
E foi assim que saíram em silêncio sem serem percebidos pelos demais. Boa despedida é aquela feita em silêncio, sem alarde, para que não desperdicemos os sentimentos. Devemos degustá-los como um vinho fortificado ao final da refeição. Trazendo a mesa da memória os sentimentos bons e perdoando os sentimentos ruins.
“Onde estão todos?” Perguntou o bom Kalil ao retornar para a capela acreditando que os amigos ainda estavam ali. “Meu amigo, cada um saiu para se encontrar com o destino”.
Este é o relato de Samir Khuri - Clérigo desta Cidade.