terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O dona, o que é graça?


Não minha senhora, não estou falando da manicure da esquina, mesmo sabendo que tal moçoila foi batizada com o nome de Maria das. Deixa pra lá. Sente-se aqui no balcão e vamos imaginar uma história fictícia de pura realidade enquanto enxugo os copos:

Certa feita, o pároco daquela pequena capela aqui em frente esperou que todos se acomodassem para o início da liturgia de domingo de manhã, quando o último enternado chegou (enternado é o sujeito que vai de terno para a igreja), ele fechou as portas da capela. Foi um estranhamento, pois a novidade mexia com o cotidiano dos acostumados a tudo dentro do tim tim por tim tim.

Nada de música, nada de leitura. Apenas um pedido daquele homem que estava lá na frente junto com um diácono que ficava assentado com cara de nada (diácono é uma coisa que eu não vi ainda para que serve, mas dizem que serve para servir). O pároco levanta a voz e diz: meus amados escrevam nos papeis que estão à sua frente o que vocês acham que significa a palavra “Graça”. Tenham um bom dia e até mais na liturgia das 19:00 horas.

Isso é coisa que se faça? Logo eu, dono de comércio novo, precisando de clientes para freqüentar, comprar e principalmente pagar, vou para capela fazer freguesia e não tenho nem a oportunidade de receber uma palavrinha amiga, nem panfleto minhas opiniões com ninguém? Melhor cuidar das lentilhas que recebi e pensar em uma boa promoção! Guardei o papel branco, atravessei a rua com passos duros e meti porta a dentro!

Atrás de mim um menino com cara de fome, perna de fome, braço de fome e o resto também. Tinha uns 6 ou 9 anos. Sou ruim dessas coisas. Ele olha pra dentro da lujinha e diz: moço, me dá um serviço pra fazer? Fitei aquela carinha, perguntei com voz dura por que ele não estava com a mãe. Ele me respondeu porque a mãe dele estava morta no cemitério (toma libanêss!- pensei comigo mesmo) ficamos olhando um para o outro por minutos. Perguntei se ele tinha dinheiro pra pagar um algo. Ele levantou os ombros e balançou a cabeça. Recebi o mais óbvio “não” da minha vida (toma libanêss!).

Hoje você não trabalha. Vamos comer primeiro. Levei um pouco da lentilha nova que comprei, coloquei bacon, cebola e temperos da minha amada terra na panela de pedra e comemos um cozido que fez a barriguinha do menino estufar. Ele comeu, sorriu e foi embora.

Fiquei parado relembrando tudo e sorrindo. Às 19:00 horas, entreguei o papel na capela com um punhado de lentilhas dentro.

SAINDO A PRIMEIRA FORNADA!


Meus caros visitantes & fregueses,

Quero compartilhar pequenas histórias com vocês. Elas não são inteiramente concretas nem inteiramente fantasias. Talvez sejam um pouco desses dois antagonismos. A melhor definição que posso dar é que são histórias venéreas de uma profundidade cistérnica, com efeito balsâmico.

Portanto, nada de ficar achando defeito, teorizando ou levando meu pobre nome para o Pastor da minha Igreja ou para Patrão. A Lujinha é simples e está começando agora.

Mesmo porque o que digo e escrevo não tem nada a ver com uma Organização. O que penso e digo em minha mercearia de idéias tem um haver com o meu coração.

Boa leitura.
Se você gostou, indique nossa Lujinha para a sua rede de amigos!